Foto do poço em Inhongane, Magude.
As comunidades de Nguvane, localidade de Inhongane, distrito
de Magude clamam pela falta de água. A escassez do precioso liquido naquele povoado é tanta que
homens, mulheres e o gado bovino disputam a mesma fonte.
Os ponteiros do relógio apontavam 6h10, quando debaixo de um sol abrasador, a equipa da Livaningo escalou um ponto em que mulheres e crianças acotovelam-se para tirar água do poço que apesar de turva e imprópria para o consumo humano é escassa. “Estamos a sofrer. Bebemos a mesma água com os bois. Pedimos socorro”, clamou Marta que diz que percorre diariamente cerca de 10 quilómetros para garantir 40 litros de água.
Não é para menos, além de ser um país
pobre e com politicas públicas que excluem a maioria da população rural, Moçambique
ocupa a quinta posição no ranking dos países mais vulneráveis às Mudanças
Climáticas.
O distrito de Magude apresenta baixo
nível de precipitação e possui poucos recursos hídricos, facto que concorre
para a seca prolongada e escassez de água.
Maura 14 anos de idade, vive a poucos
quilómetros da vila sede, mas debate-se com a crise de água. Até às 6 horas da manhã
estava no poço no povoado de Nguvane. A menor lamentou a quantidade e qualidade
da água na comunidade mas disse estar impotente diante da situação. “A água é
turva mas não temos opção. Bebemos a mesma água com o gado bovino”, contou a
menina que madruga todos os dias para garantir uns litros de água antes de ir à
escola.
Foto da água consumida por comunidades de
Inhongane, Magude
“Quando aquece muito, as vezes a água
acaba e a situação fica mais complicada”, disse Lúcia Khossa, mãe de três
filhos, que para prover água em casa acorda 5h00 e vai quatro vezes ao poço,
para ter água para a higiene e consumo. Lúcia lamentou que o governo local não
consiga montar fontenários, obrigando as comunidades a consumir água que atenta
a saúde das pessoas. Estamos a sofrer porque consumimos a mesma água com os
animais, por isso, temos muitas doenças de origem hídrica”, desabafou.
Mulheres e crianças tirando água no poço em
Magude
Seca
prolongada e escassez de água interferem na produção agrícola
O sector agrícola em Moçambique é tido como chave do desenvolvimento, principalmente pelo facto de as famílias explorarem a terra para sobreviver. Esta situação deriva do facto do sector agrícola empregar maior parte da população rural. Maior parte dos cerca de 70 mil habitantes do distrito de Magude depende da agricultura para a sobrevivência, contudo, a baixa precipitação derivada pelas mudanças climáticas compromete a produção.
Maior parte dos agricultores não
conhece o termo “Mudanças Climáticas, mas percebeu da alteração na temperatura
e precipitação nos últimos 10 anos, sendo que grande parte considera que a
precipitação decresceu e todos perceberam o aumento da temperatura. A interpretação
sobre o fenómeno não é a mesma dentro das comunidades. Para alguns
agricultores, a falta de chuva explica-se pela zanga dos espíritos dos
antepassados locais, para outros é uma causa divina e que o homem não pode
intervir. Todos os agricultores perceberam dos efeitos da falta de chuva e
calor intenso uma vez que muitas vezes ficam sem colheita.
“Há anos que passamos mal com a seca.
Nos últimos anos tem sido ainda mais difícil produzir e ter colheita”, disse
Carolina Cossa, de 79 anos de idade.
Carolina faz parte de um grupo de 30
mulheres que, para minimizar a crise na agricultura, uma vez que as machambas
já não produzem nada devido às mudanças climáticas, juntou-se na Associação
Mbongane que tem ajuda do projecto Escola Machamba de Camponês.
“Na associação aprendemos técnicas de
mitigar o impacto das mudanças climáticas na agricultura, contudo, o nosso
calcanhar de Aquiles continua sendo a falta de água para a irrigação dos
campos”, contou Rosita Machel. Segundo as camponesas, a terra local produz
batata, milho e repolho mas tudo depende da chuva que muitas vezes não cai.
O projecto Escola Machamba de Camponês foi implementado em Magude em 2013 mas lamentam que o sistema montado para produzir água de irrigação seja deficiente.
“Quando começamos tínhamos
dificuldades, não produziamos nada devido a falta de água. Depois montou-se um
sistema de irrigação que funciona na base de energia solar mas não é eficiente
porque falta tubos para a canalização de água às culturas”, referiu Olinda Chiúre,
camponesa e membro da Associação Mbongane.
Olinda Chiúre, camponesa da Escola Machamba de
Camponês
Mas nem tudo é um mar de lágrimas no
distrito. A bacia do rio Incomáti percorre uma parte de Magude,
transformando-se num dos recursos de extrema importância para os residentes do
distrito, uma vez que para os pequenos produtores, o rio Incomáti transforma-se
em fonte de produção e de produtividade, facilitada pela fertilidade que se
verifica no entorno da bacia. Para além deste factor, a bacia do Incomáti
proporciona água para o consumo dos residentes e dos seus animais,
influenciando assim no modo e condição de vida dos camponeses de algumas
comunidades.
O distrito de Magude localiza-se na zona Norte da província de Maputo. Os limites a Norte os distritos de Chóckwè e Bilene Macia, na província de Gaza; ao Sul, o distrito da Moamba, na província de Maputo; a Este, o distrito da Manhiça; e a Oeste, a República da África do Sul. O distrito de Magude está dividido em cinco postos administrativos: Vila de Magude, Panjane, Motaze, Mahele e Mapulanguene.
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