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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Organizações da Sociedade Civil exigem do Governo acções enérgicas para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas



A Plataforma Nacional das Organizações da Sociedade Civil para Mudanças Climáticas (PNOSCMC), constituída por organizações da sociedade civil nacionais e internacionais, das quais a Livaningo, realizou nos dias 12 e 13 do mês em curso, o seu “III Workshop Nacional sobre Mudanças Climáticas: Reflexão Pós-COP25"’, visando promover  um espaço em que os diferentes actores pudessem discutir e refletir aspectos sensíveis ligados às mudanças climáticas, (causas, impactos e propostas de soluções), um fenómeno que ameaça a humanidade e o planeta, bem como o desenvolvimento sustentável de vários países em via de desenvolvimento, incluindo Moçambique.  

O evento surge na necessidade de encontrar soluções para uma problemática que tem sido responsável pela ocorrência de eventos climáticos extremos com maior frequência e intensidade tais como as secas, chuvas intensas e destrutivas, ciclones, inundações, subida do nível das águas do mar, dentre outros.


Vários intervenientes foram unânimes em afirmar que em Moçambique, a realização de debates democráticos e reflexões inclusivas ainda não atingiram os níveis satisfatórios, tendo em conta a urgência para a resolução do problema da crise climática. Este facto concorre para a existência de uma fraca mobilização no meio dos actores não estatais e estatais, falta de coordenação e articulação entre os diversos actores, adicionados a fraca divulgação de informação, facto que está ligado a um sistema deficiente de partilha de informação.

“Os aspectos levantados acima, acontecem ou manifestam-se num país que é totalmente vulnerável às mudanças climáticas, um dos mais vulneráveis do mundo e, os ciclones Idai e Kenneth que afectaram o centro e norte de Moçambique em menos de dois meses, mostraram quão o assunto das mudanças climáticas deve merecer uma profunda reflexão e debate de todo os actores, sociedade civil, Governo, academia e sector privado, tendo em conta a urgência”, sublinhou a Plataforma das Mudanças Climáticas.

A PNOSCMC reiterou o seu compromisso plasmado no Acordo de Paris que advoga para a redução das emissões de gases de efeito de estufa com adopção de tecnologias de baixa emissão de carbono e boas práticas agrícolas e pede que a comunidade internacional, o Governo de Moçambique e o sector privado reconheçam os esforços já realizados pelas organizações da sociedade civil nacionais e que, baseando-se no uso de conhecimento local promovem acções antecipadas de mitigação e de adaptação.

Por sua vez, as organizações da sociedade civil  exigem maior intervenção do Governo de Moçambique na coordenação e responsabilização dos sectores e actores que emitem os gases para a atmosfera, na implementação de estratégias e políticas aprovadas de nível nacional e internacional, na necessidade de elaborar e implementar leis e regulamentos, um facto que está associada a pouca capacidade de planificação integrada nas actividades; criar meios que possam desencorajar o uso de combustíveis fósseis  e no lugar destes, promover o uso de energias renováveis.

A redução da emissão de gases exige capacidade financeira de Moçambique por forma a implementar as actividades de mitigação e adaptação. As poucas actividades que estão a serem implementadas no país com a finalidade de cumprir com as metas e responder aos desastres, são financiadas pelos actores externo. Por causa desta política de financiamento, muitas delas ainda não foram implementadas e carecem de financiamento. O Orçamento Geral de Estado, fundo que resulta da coleção de imposto da população moçambicana não financia actividades de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Dos financiamentos externos existentes vale destacar o Fundo Verde Climático (agente externo), Fundo Global do Meio Ambiente (agente externo, Banco Mundial (agente externo), entre outros. Olhando para esta difícil realidade, a Plataforma percebe e exige que é papel e obrigação do Estado incluir no orçamento geral actividades que possam reduzir a vulnerabilidade da população e das comunidades. Sendo assim, os membros da Plataforma e participantes do workshop nacional de reflexão exigem:

1.            Maior seriedade do Governo de Moçambique em alocar uma parte significante do Orçamento do Estado para as actividades de mitigação e adaptação para fazer face a vulnerabilidade climática e reduzir os riscos;
2.            Que sejam levadas a cabo acções que garantam a redução drástica de emissões que contribuam que o aumento da temperatura média global não exceda os 1.5 graus centigrados conforme recomenda a ciência;
3.            O governo deve aumentar de 0.1% para 10% do Orçamento do Estado direcionado a gestão das calamidades naturais;
4.            A descentralização dos fundos para os distritos e doptar os órgãos locais de capacidade para responder aos eventos climáticos;
5.            Há necessidade de alocar fundos para estruturas criadas a nível de base para responder as necessidades locais, pois muitos destes fundos estão centralizadas;
6.            Alocação de fundos para realizar monitoria e avaliação de actividades implementadas no âmbito das mudanças climáticas a nível das províncias e distritos;
7.            Prestação de contas dos fundos alocados para responder as actividades de mitigação e adaptação com a finalidade de cumprir com o que está plasmado no plano de Mitigação;
8.            Providenciar financiamento para capacitar comunidades, divulgar a informação sobre mudanças climáticas as comunidades através dos órgãos de comunicação.

Os membros e participantes do “III Workshop Nacional sobre Mudanças Climáticas: Reflexão Pós-COP25" vincaram que, as mudanças climáticas em Moçambique são uma realidade e os impactos não mais podem ser ignorados e escondidos, é um assunto sério e sensível a todo o cidadão que seja governante, tomador de decisão, político, académico, professor, enfermeiro, camponês e diplomata. Sendo um assunto sério e real, exige-se urgência do Governo de Moçambique, a sociedade civil e o sector privado na implementação de actividades concretas sérias e que sejam resilientes para salvar vidas e promover um desenvolvimento sustentável em Moçambique.  


Reagindo a um dos posicionamento das organizações da sociedade civil, Rotália Pedro, em representação do extinto MITADER, disse que apesar de persistirem desafios na implementação de planos; limitação de recursos financeiros e; fraca coordenação intersectorial, o Governo possui uma estratégia de gênero aprovada em 2010 e implementada em 2014. A integração do gênero consiste em olhar para aquilo que são as necessidades de homens e mulheres, mas também pessoas vulneráveis como deficientes e idosos. “As pequenas acções de como minimizar os impactos das mudanças climáticas devem começar por cada um de nós”, advertiu.

Por sua vez, o Ministério de Economia e Finanças, representado por Albano Manjate, fez saber que   existem fundos de várias organizações de desenvolvimento como o Banco Mundial. Existem vários fundos para ajudar na mitigação e adaptação às mudanças climáticas como são os casos de Fundo Climático Verde e Fundo Global do Meio Ambiente, direcionado aos países em desenvolvimento. “Temos o Ministério de Ambiente como o intermediário. Também temos o Fundo de Gestão de Calamidades onde o Estado aloca 0.1% do orçamento geral”, informou.

No encontro, a Livaningo que apresentou um tema denominado “Migrações Climáticos: Impacto das MC na Mobilidade Humana”, deixou algumas recomendações que visam responder aos desafios impostos pelos impactos das mudanças climáticas:

- Deve haver coordenação entre as diferentes instituições governamentais que trabalham nesta área;
- É necessária a participação e inclusão de todos os seguimentos sociais, contudo, as comunidades muitas vezes são apenas auscultadas;
- Revisão de documentos de orientação de combate às mudanças climáticas com vista a inclusão, reconhecimento e protecção de refugiados/migrantes/deslocados climáticos;
- Necessidade de um debate mais abrangente sobre o posicionamento face a este termo refugiado, deslocado ou migrante?);
- A médio e longo prazo, sendo Moçambique um país vulnerável aos eventos extremos, deve ter um instrumento (política ou estratégia sobre migração induzida pelas mudanças climáticas), especifico que aborde questões sobre migrações climáticas;
- Maior divulgação e assimilação das políticas e estratégias sobre migração climática e;
- Harmonização dos instrumentos e seu link com o conteúdo local (conhecimento comunitário).



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