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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Livaningo lança estudo sobre Refugiados Climáticos em Moçambique




Foi lançado esta terça-feira (31 de Março), em Maputo, um estudo denominado “Refugiados Climáticos: Impactos das Mudanças Climáticas nas zonas costeiras de Moçambique”, no âmbito de um projecto com o mesmo nome, que está sendo implementado pela Livaningo, em parceria com a Counterpart International (CPI).

A pesquisa visava apresentar evidências sobre existência de refugiados climáticos como consequência das mudanças climáticas; entender o efeito dos eventos extremos tais como ciclones, cheias seca, etc, sobre a população e; fazer uma análise situacional de uma inclusão nos principais documentos de referência a nível nacional por forma a trazer recomendações claras sobre a inclusão, reconhecimento e protecção dos migrantes climáticos em Moçambique.

O trabalho foi desenvolvido nas províncias costeiras de Cabo Delgado (na Cidade municipal de Pemba), Nampula (Município da Ilha de Moçambique e Nacala), Zambézia (Quelimane) e Inhambane (Cidade de Inhambane e Município de Vilankulo). Os municípios foram propostos pela Livaningo em coordenação com a CPI. O objectivo da pesquisa era trabalhar com as autarquias costeiras tendo em conta que a CPI tem estado a financiar estudos nas zonas costeiras.

O estudo constatou que as mudanças climáticas são uma realidade em Moçambique. Os últimos eventos climáticos, nomeadamente ciclone Eline, Flavio, Idai e Kenneth trouxeram inúmeros impactos socioeconómicos às populações urbanas e rurais. Como evidência, o ciclone IDAI afectou 1.85 milhões de pessoas, tendo deslocado 146 mil pessoas e destruído 239 mil casas. Outrossim, destruiu cerca de 1 milhão de hectares e infraestruturas avaliadas em 1 bilhão de dólares norte americanos. O ciclone Kenneth afectou 250 mil pessoas, tendo deslocado 24.036 pessoas e 44,9 mil casas destruídas. A ocorrência desses eventos em Moçambique suscita intervenções urgentes em relação migrações humanas em larga-escala devido a escassez de recurso e meios de subsistência e aumento de eventos extremo e intensificação da competição enter e intra-comunitária para aquisição de alimentos, água e outros recursos ou meios de subsistência particularmente nas zonas afectadas.

Os pesquisadores recomendam ao governo para levar à cabo acções que permitam a melhor protecção do migrante ambiental tais como: infraestruturas preparadas para receber os possíveis migrantes, garantir a alimentação e acomodação dos refugiados ambientais; inclusão de todos os segmentos da sociedade na elaboração dos instrumentos normativos e na sua implementação e; criação de uma equipa multidisciplinar de trabalho que esteja altamante treinada para lidar com pessoas afectadas pelas mudanças climáticas.

“A pesquisa documental constituiu a principal técnica de recolha de dados na realização deste trabalho. Consistiu na recolha, análise e interpretação de relatórios, orçamentos e demais documentos, na sua maioria legislação publicada pelo governo moçambicano sobre questões ambientais. A pesquisa documental permitiu constatar que relativamente a legislação e demais instrumentos legais, o país avançou bastante na institucionalização de medidas tendentes à preservação do ambiente. Para a obtenção de dados, realizamos em todas as cidades municipais visitas aos locais previamente estabelecidos pela Livaningo, entrevistas semiestruturadas  aos responsáveis locais do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), Conselho Municipal das Cidades e Direcção Provincial de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural e população afectada pelos eventos climáticos. Em alguns locais (Pemba, Nacala e Quelimane) também realizamos entrevistas com os secretários dos bairros afectados pelos eventos climáticos e as respectivas famílias afectadas. Em Nacala Porto também interagimos com população reassentada”, explicou um dos pesquisadores.

Nos últimos 20 anos, mais de 8 milhões de moçambicanos foram afectados por desastres naturais causados por fenómenos naturais, retrocedendo significativamente o desenvolvimento económico do país (INGC, 2017). Em Fevereiro do ano 2000 o país foi assolado por cheias de grandes proporções afectando 4,5 milhões de pessoas em três meses de inundação e dizimando outras 800. No mesmo mês o ciclone Eline devastou a costa moçambicana causando destruição com ventos até 260 Km/h (Patt and Schoter, 2008). Nos anos de 2001, 2007 e 2008 chuvas torrenciais causaram cheias ao longo da bacia do Rio Zambeze no centro de Moçambique. As cheias de 2007 foram seguidas do ciclone Flávio aumentando o número de desalojados em cerca de 100.000 pessoas (Stal, 2011). As maiores secas ocorreram nos anos de 1980, 1983, 1985 e 1992, e em consequência disso mais de 100.000 pessoas morreram e 17 milhões foram afectadas (Word Bank, 2011). Entre os anos de 2015 e 2017 Moçambique foi afectado pela seca que obrigou o país a procurar assistência humanitária. Durante o mesmo período, as estatísticas revelam que mais de 2.2 milhões de moçambicanos foram afectados pela seca (Mate, 2017; 2016).

As cidades costeiras moçambicanas são caracterizadas por um elevado número de população que maioritariamente se dedica à actividades económicas como a pesca e agricultura. Estas populações são também ciclicamente afectadas por eventos climáticos e, por isso, ficam sujeitas às mudanças das áreas consideradas vulneráveis para as consideradas seguras ou menos vulneráveis. Com este estudo pretendia-se captar a sensibilidade da população em relação à necessidade de mudança, isto é, pautar por fixar residências em áreas seguras.

Os pesquisadores referem que refugiados ambientais incluem pessoas que não têm controlo sobre sua relocalização. Os emigrantes ambientais são obrigados a se deslocarem, mas têm maior controlo sobre a decisão de migrar. Finalmente, os migrantes voluntários detêm controlo sobre todo processo de migração.

“Esta clarificação dos conceitos é particularmente importante porque se configura num primeiro exercício com vista a inclusão dos desafios migratórios na definição das políticas e estratégias ambientais do país. Dados os efeitos acentuados dos eventos climáticos sobre os fluxos migratórios do país, urge uma política estratégica sobre como lidar com a problemática das migrações ambientais. Tendo em conta a discussão acima feita, julgamos que o termo migrante ambiental é o mais apropriado à situação de Moçambique. A utilização da expressão ‘migrante ambiental’ (ou deslocado ambiental) tem o potencial de atingir a todas as pessoas incluindo-se os próprios “refugiados climáticos” (Blank, 2015).”

O estudo aponta que há muitas razões que ditam os deslocamentos internos, desde as políticas até às que têm a ver com os desastres naturais. No que tange aos desastres naturais os dados mostram que nos últimos 10 anos o número de deslocados internos sempre variou tendo atingindo o seu pico em 2017 com 186.000 pessoas deslocadas internamente. Os motivos desses deslocamentos internos variam desde a seca, os ciclones e as inundações.




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