Em nome do
consórcio que luta para apoiar as comunidades a tornarem-se capazes de dar uma
volta por cima após uma catástrofe/desastre natural, uma equipa da Livaningo
esteve entre os dias 07 a 14 de Junho nos distritos de Marínguè e Gorongosa,
visando conhecer os projectos implementados por outros actores nos distritos
onde o consórcio está a implementar o programa “ Comitês de Gestão de Recursos
Naturais de Sofala: como forma de colher experiências e casos de sucesso.
A pesquisa tinha
como objectivo fazer o rastreio das acções concretas/programas de mitigação,
adaptação e resiliência das comunidades face às Mudanças Climáticas,
implementadas pelas organizações da sociedade civil nos distritos de Marínguè e
Gorongosa.
FAO braço forte do distrito de Marínguè para fazer face
às mudanças climáticas
A equipa da
Livaningo em nome do consórcio travou uma conversa com o director do Serviço
Distrital das Actividades Económicas (SDAE) de Marínguè,Tomás Joaquim Quembo,
que referiu que para além do consórcio Comitês de Gestão de Recursos Naturais
de Sofala: Governação Local, Direitos e Mudanças Climáticas, constituído pela
Adel Sofala, Livaningo, IPAJ, Muleide e Rede de Jornalistas Amigos do Ambiente,
o distrito de Marínguè conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para
a Alimentação e a Agricultura (FAO) no âmbito do projecto Escola na Machamba do
Camponês (EMC) que é um processo de
ensino e aprendizagem que ocorre nas machambas dos camponeses durante o ciclo
da cultura/animal dando-lhes a oportunidade de escolher os métodos de produção
através de uma abordagem baseada na descoberta e troca de experiências.
Tomás Quembo, director de SDAE de Marínguè
O programa da
iniciativa da FAO é financiado pela União Europeia e implementado desde 2004
pelas extensões agrárias distritais que prestam um serviço de apoio técnico aos
produtores que através de processos educativos os ajuda a melhorar os métodos e
técnicas de produção agrária visando a melhoria do seu nível de vida.
Para o Governo
Distrital de Marínguè os programas de adaptação, mitigação e resiliência às
Mudanças Climáticas implementados localmente são bons e ajudam as comunidades,
contudo, aponta como desafios o aumento da abrangência das famílias
beneficiárias. “Veja que Marínguè tem cerca de 16 mil famílias mas o projecto
da FAO até aqui abrange apenas cerca 1500 famílias”, disse Quembo que defende que apesar do projecto EMC abarcar 27
escolas em todo o distrito, “verificamos um erro nos projectos porque a maioria
dos mesmos estão implementados nos mesmos locais e mesmos objectivos. É preciso
abranger mais famílias”, disse.
Por sua vez, Jordão
António Sengo, secretário do Comité de Gestão de Recursos Naturais de Macoco,
localidade de Kumbalansai, distrito de Maríngué, as comunidades locais possuem
três escolas da EMC que ajudam na aquisição de conhecimentos sobre a produção
agricola e pecuária.
Encontramo-lo na
comunidade de Ndumba, alegre e amante do diálogo, Marcos Vale Mulima,
apresentou-se como facilitador de Unidade de Ndunda Iculo numa das escolas
machamba de camponês com cerca de 30 membros. “Ajudo as comunidades a plantarem
as sementeiras em linha, produzem e vendem os excedentes de produtos como
milho, feijão nhemba, gergelim e amendoim”, contou Mulima que garante que a
partir de uma escola fundou outras três, sendo por isso, facilitador de quatro
escolas com 120 membros.
Para a rainha do povoado de Macoco, Lista
Brissimo Chave, a EMC tem sido útil para as comunidades uma vez que ensina
outros meios alternativos de produção. Segundo as comunidade de Macoco, para
além da FAO, até o ano passado, contavam
com o apoio da ADPP que distribuia insumos agricolas aos camponeses,
disseminava técnicas da produção animal e cerca de 50 famílias beneficiaram de uma moageira.
“Foi um projecto
que durou sete (7) anos e que produziu efeitos. As comunidades ainda fazem
hortas de sementes tolerantes a seca”, disse a rainha local.
A Livaningo também
visitou o regulado de Chiverano Maneto, tendo sido recebido pelo secretário do
Comitê de Gestão de Recursos Naturais de Maneto, Zacarias Abrahão que explicou
que presentmente as comunidades têm beneficiado da formação da EMC. “Nos
últimos anos, temos tido apoio da Fao, Adel Sofala, Muleide na questão das
mudanças climáticas. Mas há 12 anos trabalhamos também com a Oram que durante
quatro anos fez trabalhos de sensibilização sobre as queimadas descontroladas e
concessões florestais para o beneficio das comunidades.
O régulo local,
Jainete Frend Maneto e as irmãs Reinita Bonjesse e Joana Bonjesse e outros
presentes confirmaram as informações prestadas pelos seus pares.
Help Code, PNG e FAO implementam actividades de
adaptação, mitigação e resiliência às Mudanças Climáticas em Gorongosa
Segundo o director
do Serviço Distrital das Actividades Económicas - SDAE de Gorongosa, Gimo
Mapanga Simango, na área das mudanças climáticas para além do programa Comitês
de Gestão de Recursos Naturais de Sofala: Governação Local, Direitos e Mudanças
Climáticas, constituído pela Adel Sofala, Livaningo, IPAJ, Muleide e Rede de
Jornalistas Amigos do Ambiente, o distrito trabalha com a FAO, Helpe Code e
Parque Nacional de Gorongosa.
Gimo Mapanga, director do SDAE de Gorongosa
A FAO ajudou na
criação de 25 Escolas Machamba de Camponês em todo o distrito, para que as
pessoas aprendam boas práticas para mitigar as mudanças climáticas como por
exemplo, usando a agricultura de conservação.
Por sua vez, a Help
Code que pretende reduzir a vulnerabilidade, perda de vidas humanas e
destruição de propriedades públicas e privadas, devido às mudanças climáticas
no distrito de Gorongosa, tem ajudado as comunidades no âmbito do projecto
denominado “Desenvolvimento Rural e Fortalecimento das Capacidades de
Resiliência das Comunidades” que presta assistência à agricultura e pecuária,
promoção da irrigação e comercialização de produtos agrícolas, fortalecimento
das habilidades técnicas, desenvolvimento do conhecimento dos produtores e
parceiros e à gestão dos produtos e dos serviços técnicos.
“A Help Code tem
uma cadeia de valor de mel nas comunidades de Mucosa, Nhamilonga, Chiquir,
Nambirira, Vunduzi, Mpilo. A cadeia de mel está baseada na zona tampão do
Parque Nacional de Gorongosa, onde o foco é reduzir as queimadas
descontroladas”, disse Mapanga que acrescentou que o projecto é implementado e
financiado pela União Europeia há mais de 10 anos. O mesmo termina em Junho do
próximo ano.
Por último, o
distrito conta actualmente com a ajuda do Parque Nacional de Gorongosa que
ensina às pessoas locais (especialmente às crianças) os princípios e valores de
conservação ambiental, de modo que eles estejam dispostos e capazes para ajudar
a proteger o Parque no futuro.
“No nosso Centro de
Educação Comunitária (financiado pela USAID e pelo IPAD), o PNG usa autocarros
para levar crianças das comunidades vizinhas para formarem "Clubes
Ambientais" e aprenderem sobre os princípios básicos ambientais e as
melhores práticas de agricultura sustentável durante cerca de quatro dias”,
explicou Mapanga para quem depois do Idai, o distrito travou parcerias com a
GIZ que distribuiu insumos e da PMA que contribuiu com alguns produtos
alimentares.
Para o Governo
Distrital de Gorongosa apesar de existerem organizações da sociedade civil que
contribuem na mitigação do impacto das mudanças climáticas, ainda existem
desafios, “por exemplo, na componente agrícola faz falta o repovoamento de
pecuária pois o conflito da tensão politico militar aliado as secas e cheias
prejudicou as comunidades. Também há falta de incentivos de fundos para a
implementação de actividades; falta premiar os melhores Comités de Gestão para
que se sintam mais envolvidos no processo e por fim, precisamos de mais
parceiros para sensibilizar os carvoeiros, ou seja, podemos introduzir um
programa que visa reduzir a produção do carvão. O uso de gás doméstico devia
ser abrangente para minimizar o abate de árvores para a produção de carvão”
considerou Mapanga.
Contudo, sobre a
premiação dos comités, o consórcio esteve a
fazer avaliação do “comité ideal” dos 15 em Marínguè e Gorongosa que foram beneficiados pelo
projecto, com o intuído de graduar os comités mais fortes, que tiveram mudanças
visíveis e premiá-los como forma de
incentivar a continuarem com seu papel e também motivá –los para criarem outos comités e formar os mesmos com assessoriq do
consórcio.
A Livaningo visitou
igualmente duas comunidades do distrito de Gorongosa, uma de Canda e outra de
Tambarara. As duas comunidades deram a mesma informação passada pelas
autoridades distritais. O secretário do Comité de Gestão de Recursos Naturais
de Canda, Chico Jaime, precisou que o Parque Nacional de Gorongosa tem
sensibilizado a comunidade a optar pelos programas de reflorestamento, por
isso, distribui viveiros às comunidades.
Entretanto, as comunidades em Canda reclamam
que faltam produtos de alto rendimento. “Precisamos de mais apoios resistentes
à seca e de rápido crescimento - milho e feijão que possam crescer em dois
meses”, disse Francisca Luis que foi secundada pelo Tivane Escrivão “Também precisamos
de ser treinados para transformar a madeira em carpintaria e não temos meios
para a lavoura, como por exemplo, um tractor.
Isac Araújo,
presidente de Comité de Gestão de Recursos Naturais de Tambarara, disse que a
sua comunidade tem fome de aprender mais sobre a adaptação, mitigação e
resiliência face às mudanças climáticas, porque “a aprendizagem nunca tem fim”,
disse Isac.
O programa Comitês
de Gestão de Recursos Naturais de Sofala: Governação Local, Direitos e Mudanças
Climáticas, constituído pela Adel Sofala, Livaningo, IPAJ, Muleide e Rede de
Jornalistas Amigos do Ambiente, vem sendo implementado desde 2017 e está no
seu último ano de implementação, tendo
avançado para uma uma nova fase do programa em
2020 virada para as questões das Mudanças Climáticas e principais estratégias
de adaptação.
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