Moçambique tem uma
população maioritariamente rural, cuja sobrevivência depende fundamentalmente
da agricultura. A prática agrícola e a segurança alimentar da população são
afectadas por muitos problemas ligados a mudanças climáticas com repercussões
directas advindas da seca, cheias, ciclones e agravadas pela presença da
epidemia.
O Governo de
Moçambique está mais consciente sobre elevada vulnerabilidade do país ao risco
de desastres naturais, e tem se esforçado continuamente na mobilização dos
cidadãos e comunidades no reforço e consolidação da capacidade multissectorial
para enfrentar os desafios impostos pelas calamidades naturais e tornar-se mais
resilientes as Mudanças Climáticas.
As Organizações da
Sociedade civil, membros do consórcio do programa Comités de Gestão de Recursos
Naturais de Sofala constituído pelas organizações (Livaningo, ADEL Sofala,
Muleide, Rede de Jornalistas Amigos do Ambiente de Sofala, Rede de Jornalistas
Amigos do Ambiente), preocupadas com a situação das comunidades fez recentemente, uma visita ὰs comunidades de
Canda, Tambarara, Nhambita e Nhanguo onde conversou com os membros dos comités
de gestão de recursos naturais e autoridades sobre o impacto e estratégias das
comunidades para fazer face ὰs mudanças climáticas.
Em conversa com a
comunidade de Canda, estes referiram que têm sofrido bastante com o impacto das
Mudanças Climáticas, pois afecta directamente a sua actividade agrícola. Por
exemplo, com o ciclone “Idai”, várias machambas ficaram inundadas e culturas
destruídas, relegando camponeses ὰ fome. A comunidade acredita que para além
dos efeitos naturais, o Homem tem feito algumas práticas que aceleram os
efeitos das mudanças climáticas.
Matias Panisse, presidente do Comité de Gestão de Recursos Naturais de
Canda, disse que, para além das práticas que atentam a natureza, as pessoas têm
desrespeitado as leis tradicionais e áreas sagradas. "Os nossos ancestrais nos abandonaram porque já não os deixamos
descansar em paz. Profanamos os seus túmulos, abrindo machambas nos cemitérios,
cortando árvores sagradas para obter lenha, etc. E se não respeitarmos a
tradição sempre passaremos fome, pois não teremos chuvas e não haverá produção
e produtividade nas machambas", desabafou Matias Panisse.
A comunidade
lembra com saudosismo que antigamente havia união na comunidade, em casos de
falta de chuva realizavam-se cerimónias tradicionais para pedir perdão aos antepassados
e pedir bênção da chuva e prosperidade, contudo, estes hábitos estão a
desaparecer.
Já não há união entre a comunidade e o régulo
e este último é que deve convocar a comunidade para uma reunião visando
encontrar soluções dos problemas que lhes apoquentam.
“O
régulo já não participa nos encontros da comunidade, por causa da tensão
politico-militar entre as forças governamentais e homens armados da RENAMO, o
mesmo abandonou a sua casa na comunidade e foi viver na vila por questões de
segurança, onde chegou a falecer a pouco tempo e estamos a espera que nos
apresentem o novo régulo e esperamos que haja mais diálogo, união entre a
comunidade e a nova autoridade tradicional” disse Marcos Almeida, da
comunidade de Canda.
Uso de sementes mais resistentes ὰs Mudanças Climáticas
para contornar a fome
Tem-se verificado
nos últimos anos, um crescente reconhecimento, pelo Governo, Organizações da
Sociedade Civil e a sociedade no geral, para necessidade de adopção de
estratégias para mitigação do impacto das mudanças climáticas e de tornar as
comunidades mais resilientes.
Para garantir a produtividade
e produção agrícola, as comunidades têm adoptado as sementes de rápido
crescimento, antes usavam a semente grande “semente nativa” mas esta não tem
suportado as variações climáticas e acaba se estragando ou pela seca ou pela
chuva intensa, diferente da semente melhorada que é mais resistente as
variações climáticas. Entretanto, a comunidade depara-se com desafios e não tem
sido sustentável o uso da semente melhorada.
”Tem sido um grande desafio para a comunidade
conservar a semente melhorada para poder usar na época seguinte, pois esta
necessita de muitos cuidados, produtos para conservar e sem isso é sempre
atacada por pragas roedoras e acabamos usando apenas para produção, consumo e
venda” disse Daniel Valisse da comunidade de Nhanguo.
Segundo a comunidade de Tambarara, a introdução da semente melhorada e de
rápido crescimento nas comunidades foi feita pelos Serviços Distritais de
Actividades Económicas, em alguns campos de demonstração. O SDAE de Tambarara
ensinou os nativos a conservar a semente que era doada em forma de empréstimo.
"Quando o SDAE de Gorongosa
fez o fomento da semente melhorada, éramos entregues um saco de 25 kg para
produzir e após a produção tínhamos que devolver 50 kg do que produzimos,
contudo, essa facilidade já não existe. Agora temos que comprar a cada época
agrícola pois não conseguimos conservar e, é facilmente atacada por pragas
roedoras, diferente da semente nativa que usamos desde a época dos nossos pais
e avôs", explicou Issac Araújo.
Um membro da
comunidade de Tambarara, Jorge Mucabar, disse que, o custo de aquisição da
semente melhorada é bastante elevado. Compra-se a semente melhorada a um preço
de 200 meticais/kg . ”Não abrimos mão da
nossa semente nativa, usamos nas machambas que produzimos nas zonas baixas,
perto dos riachos, onde facilmente temos acesso a água e o solo mais
rico e produtivo”, enfatizou Mucabar.
Campanhas de sensibilização nas comunidades para a
gestão sustentável dos recursos naturais tem surtido efeitos
Os membros do
consórcio do programa Comités de Gestão de Recursos Naturais de Sofala têm
feitos algumas campanhas de sensibilização para incutir na comunidade a
necessidade de se usar os recursos de forma sustentável, evitando práticas que
acelerem os efeitos das mudanças climáticas. Com efeito, a comunidade tem se
engajado na sensibilização para o reflorestamento das áreas degradadas nas
comunidades, controlo e combate de práticas de queimadas descontroladas.
Como exemplo, a
comunidade de Tambarara tem uma floresta sagrada, onde existem espécies que não
podem ser abatidas para a produção de lenha e muito menos abertura de machambas
”as mesmas são conservadas para geração vindoura”. Os líderes locais têm sido
sensibilizados para que façam o reflorestamento nas suas comunidades, se
inspirando no lema ”um líder, uma floresta”
e também são responsabilizados pela fiscalização das florestas e monitoria das
actividades do comité.
O consórcio acha
extremamente relevante o envolvimento de todos (lideres comunitários, membros
do comité de gestão de recursos naturais e a comunidade no geral) na proteção,
conservação dos recursos e sensibilização das comunidades para evitarem acções
que prejudicam o ambiente e aceleram os efeitos das mudanças climáticas.
Fazem parte do consórcio as seguintes
organizações/instituições:
Livaningo, ADEL Sofala, Muleide, Instituto
de Patrocínio e Assistência Jurídica e Rede de Jornalistas Amigos do Ambiente.
Sem comentários:
Enviar um comentário