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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Comunidades rurais apostam no uso de semente melhorada para contornar os efeitos das Mudanças Climáticas



Moçambique tem uma população maioritariamente rural, cuja sobrevivência depende fundamentalmente da agricultura. A prática agrícola e a segurança alimentar da população são afectadas por muitos problemas ligados a mudanças climáticas com repercussões directas advindas da seca, cheias, ciclones e agravadas pela presença da epidemia.

O Governo de Moçambique está mais consciente sobre elevada vulnerabilidade do país ao risco de desastres naturais, e tem se esforçado continuamente na mobilização dos cidadãos e comunidades no reforço e consolidação da capacidade multissectorial para enfrentar os desafios impostos pelas calamidades naturais e tornar-se mais resilientes as Mudanças Climáticas.


As Organizações da Sociedade civil, membros do consórcio do programa Comités de Gestão de Recursos Naturais de Sofala constituído pelas organizações (Livaningo, ADEL Sofala, Muleide, Rede de Jornalistas Amigos do Ambiente de Sofala, Rede de Jornalistas Amigos do Ambiente), preocupadas com a situação das comunidades fez  recentemente, uma visita ὰs comunidades de Canda, Tambarara, Nhambita e Nhanguo onde conversou com os membros dos comités de gestão de recursos naturais e autoridades sobre o impacto e estratégias das comunidades para fazer face ὰs mudanças climáticas.

Em conversa com a comunidade de Canda, estes referiram que têm sofrido bastante com o impacto das Mudanças Climáticas, pois afecta directamente a sua actividade agrícola. Por exemplo, com o ciclone “Idai”, várias machambas ficaram inundadas e culturas destruídas, relegando camponeses ὰ fome. A comunidade acredita que para além dos efeitos naturais, o Homem tem feito algumas práticas que aceleram os efeitos das mudanças climáticas.

Matias Panisse, presidente do Comité de Gestão de Recursos Naturais de Canda, disse que, para além das práticas que atentam a natureza, as pessoas têm desrespeitado as leis tradicionais e áreas sagradas. "Os nossos ancestrais nos abandonaram porque já não os deixamos descansar em paz. Profanamos os seus túmulos, abrindo machambas nos cemitérios, cortando árvores sagradas para obter lenha, etc. E se não respeitarmos a tradição sempre passaremos fome, pois não teremos chuvas e não haverá produção e produtividade nas machambas", desabafou Matias Panisse.
A comunidade lembra com saudosismo que antigamente havia união na comunidade, em casos de falta de chuva realizavam-se cerimónias tradicionais para pedir perdão aos antepassados e pedir bênção da chuva e prosperidade, contudo, estes hábitos estão a desaparecer.

 Já não há união entre a comunidade e o régulo e este último é que deve convocar a comunidade para uma reunião visando encontrar soluções dos problemas que lhes apoquentam.
 O régulo já não participa nos encontros da comunidade, por causa da tensão politico-militar entre as forças governamentais e homens armados da RENAMO, o mesmo abandonou a sua casa na comunidade e foi viver na vila por questões de segurança, onde chegou a falecer a pouco tempo e estamos a espera que nos apresentem o novo régulo e esperamos que haja mais diálogo, união entre a comunidade e a nova autoridade tradicional” disse Marcos Almeida, da comunidade de Canda.


Uso de sementes mais resistentes ὰs Mudanças Climáticas para contornar a fome

Tem-se verificado nos últimos anos, um crescente reconhecimento, pelo Governo, Organizações da Sociedade Civil e a sociedade no geral, para necessidade de adopção de estratégias para mitigação do impacto das mudanças climáticas e de tornar as comunidades mais resilientes.

Para garantir a produtividade e produção agrícola, as comunidades têm adoptado as sementes de rápido crescimento, antes usavam a semente grande “semente nativa” mas esta não tem suportado as variações climáticas e acaba se estragando ou pela seca ou pela chuva intensa, diferente da semente melhorada que é mais resistente as variações climáticas. Entretanto, a comunidade depara-se com desafios e não tem sido sustentável o uso da semente melhorada.

Tem sido um grande desafio para a comunidade conservar a semente melhorada para poder usar na época seguinte, pois esta necessita de muitos cuidados, produtos para conservar e sem isso é sempre atacada por pragas roedoras e acabamos usando apenas para produção, consumo e venda” disse Daniel Valisse da comunidade de Nhanguo.

Segundo a comunidade de Tambarara, a introdução da semente melhorada e de rápido crescimento nas comunidades foi feita pelos Serviços Distritais de Actividades Económicas, em alguns campos de demonstração. O SDAE de Tambarara ensinou os nativos a conservar a semente que era doada em forma de empréstimo.

"Quando o SDAE de Gorongosa fez o fomento da semente melhorada, éramos entregues um saco de 25 kg para produzir e após a produção tínhamos que devolver 50 kg do que produzimos, contudo, essa facilidade já não existe. Agora temos que comprar a cada época agrícola pois não conseguimos conservar e, é facilmente atacada por pragas roedoras, diferente da semente nativa que usamos desde a época dos nossos pais e avôs", explicou Issac Araújo.
Um membro da comunidade de Tambarara, Jorge Mucabar, disse que, o custo de aquisição da semente melhorada é bastante elevado. Compra-se a semente melhorada a um preço de 200 meticais/kg . ”Não abrimos mão da nossa semente nativa, usamos nas machambas que produzimos nas zonas baixas, perto dos riachos, onde facilmente temos acesso a água e o solo   mais rico e produtivo”, enfatizou Mucabar.

Campanhas de sensibilização nas comunidades para a gestão sustentável dos recursos naturais tem surtido efeitos

Os membros do consórcio do programa Comités de Gestão de Recursos Naturais de Sofala têm feitos algumas campanhas de sensibilização para incutir na comunidade a necessidade de se usar os recursos de forma sustentável, evitando práticas que acelerem os efeitos das mudanças climáticas. Com efeito, a comunidade tem se engajado na sensibilização para o reflorestamento das áreas degradadas nas comunidades, controlo e combate de práticas de queimadas descontroladas.

Como exemplo, a comunidade de Tambarara tem uma floresta sagrada, onde existem espécies que não podem ser abatidas para a produção de lenha e muito menos abertura de machambas ”as mesmas são conservadas para geração vindoura”. Os líderes locais têm sido sensibilizados para que façam o reflorestamento nas suas comunidades, se inspirando no lema ”um líder, uma floresta” e também são responsabilizados pela fiscalização das florestas e monitoria das actividades do comité.

O consórcio acha extremamente relevante o envolvimento de todos (lideres comunitários, membros do comité de gestão de recursos naturais e a comunidade no geral) na proteção, conservação dos recursos e sensibilização das comunidades para evitarem acções que prejudicam o ambiente e aceleram os efeitos das mudanças climáticas.

Fazem parte do consórcio as seguintes organizações/instituições:
Livaningo, ADEL Sofala, Muleide, Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica e Rede de Jornalistas Amigos do Ambiente.

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